sexta-feira, abril 05, 2013

um instante no futuro

Botou para dentro um gole de café enquanto escrevia sobre o que dominava sua mente naquele instante. Parecia aturdido, talvez fosse pelas preocupações da faculdade ou pressões do trabalho, até quem sabe sua própria mente estivesse num outro lugar. Suas olheiras, a cara abatida e a pele sem viço concordavam.

Tentei olhar para a tela, mas rapidamente minimizou a janela em que digitava. Pude ver a figura que estampava sua área de trabalho: apenas um cinza tão cinza que não me dizia nada. Exceto pela mancha formada pela distribuição disforme de ícones e pastas, não havia nada ali. Talvez um atalho para suas últimas memórias, ou uma planilha de despesas da casa, porém não pude ver. Levantou-se sem perceber que eu estava ali lhe observando, encheu a xícara e foi até a janela. Percebi que suspirou forte, fazia calor. Tomou mais um gole e voltou para o computador.

Finalmente! Parecia escrever um documento sério. Jurava que digitava um conto ou até um script de um filme, enganei-me. Aquilo me parecia à estrutura de um projeto de pesquisa. Isso explica as muitas noites sem dormir. Meu Deus, será que tanto tempo assim se passou? Lembro-me de quando tinha acabado de entrar para a faculdade.

Nos minutos seguintes se levantou mais uma vez, abriu a geladeira, observou por alguns instantes e a fechou com um empurrão, veio até perto de mim, será que ia me repreender? Não. Apenas me ignorou novamente. Desligou o monitor e deitou-se, sem nem me dizer boa noite.

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